quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Dia do Desafio

Esta semana passou como um raio. Também, eu estava aguardando que ela demorasse, já que vou me submeter a outra punção aspirativa de nódulo tireoidiano, amanhã. O nome é pomposo, mas o exame é terrível: enfiam uma agulha no seu pescoço e sugam o liquido que está no interior do nódulo. Mas minhas expectativas com relação ao exame foram substituídas por algo mais terrível:
Minha filha C. de 9 anos, quebrou o braço no domingo, brincando numa cama elástica em uma festa de aniversário. Nada demais, já passei por isso.
O problema, é que a fratura foi na altura do cotovelo, e passei por uma peregrinação: primeiro, pronto-socorro, com médico mal humorado, cujo plantão ia terminar em alguns minutos. Após o raio X, veio a notícia de que a fratura não era boa, e que precisava chamar com urgência um ortopedista. Este, por sua vez, pelo telefone, avisou que não ia, e que era para voltarmos na segunda de manhã.
Na consulta com o ortopedista, o diagnóstico: o caso era cirurgico. Mas, ele não poderia operar, deveriamos procurar outro médico.
Começou a via sacra: achar quem operasse. Como não encontrei ninguém que pudesse atender imediatamente, viemos para Campinas, consultar com o Dr. Pedro, que nos atendeu prontamente, mesmo tendo que interromper suas férias.
O diagnóstico foi confirmado: o osso estava com um "desvio inaceitável", e a cirurgia teria que ser realizada na manhã seguinte.
Eu, que já não conseguia raciocinar direito, tive meu cérebro apagado. Foi estranho, eu não sentia nada. Não estava com medo, não fiquei nervosa, não conseguia pensar, não desmaiei, não sofri, não rezei, não chorei. Estava estranhamente calma. Não raciocinava, não vivia.
Eu tinha a certeza que tudo daria certo, mas eu não tinha sentimentos. Estava vazia, oca. Era como se meu coração tivesse sido arrancado, e com ele todas minhas emoções. Minha vida se transformou em mera existência, em mero respirar, andar, falar. Eu não era nada nem ninguém, eu simplesmente estava ali, não sei se estava vivendo ou se estava existindo. Foi assustador não ficar assustada, foi apavorante não sentir medo, foi triste não chorar, foi terrível não gritar, foi sofrido não sofrer.
Daria tudo de mim para não passar por isso, ou melhor, para C. não passar por isso. Gostaria de estar inteira quebrada, com braços, pernas, corpo, todos quebrados e precisando ser operados. Queria que fosse comigo, e não com ela. Queria sofrer no lugar dela. Queria ser anestesiada no lugar de minha filha. Queria estar agora usando gesso, com pontos no braço, com mão inchada, com dor para se mexer, e que ela estivesse apenas olhando como espectadora, e não como participante.
Foi terrível, ainda não consigo analisar com frieza o que aconteceu comigo.
Ainda tenho mil perguntas na cabeça: por que não chorei , não rezei, não sofri ? Por que era eu a anestesiada, com o cérebro, o coração e as emoções apagadas ?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

a Cidade da Criança

Descobri que a Cidade da Criança ainda existe !!!
Alguém se lembra dela ? Era mais ou menos como a Disney brasileira, ou eu achava que era, quando tinha 9 anos.
Todos meus amigos conheceram a Cidade da Criança. Eles não se cansavam de falar e contar como era maravilhoso lá. Tinha até uma casa do terror !
Mas eu não conheci. E tudo aconteceu pq, quando eu tinha 9, teve uma excursão escolar para lá. Como eu estudava em escola pública, em Campinas, a viagem era o máximo que alguém poderia desejar. Que Playcenter, que nada ... que Hopi Hari... o bom mesmo era a Cidade da Criança, em São Bernardo do Campo.
Na verdade, era tudo um contexto: o onibus, a excursão, o lanche, e... toda a diversão. E, após um dia maravilhoso, voltar para a escola e contar para todos, relembrar os melhores momentos, e, contar para mim, a única que não foi.
Mas meu pai trouxe a solução: assim que meu irmãozinho nascesse, ele me levaria lá. Claro, o motivo para eu não ir era: minha mãe estava grávida e não podia se preocupar.
Bem... meu irmãozinho faz 33 este ano. Eu ainda não fui.
Achei até que não existia mais, até que... li numa reportagem no Estadinho que ela existe, está lá, ainda cheio de atrações espetaculares, de risadas gostosas, de correria e algodão doce !
Quem sabe um dia, Cidade da Criança, eu não apareça por aí ???

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

tempo de reconciliação

Dois fatos inusitados aconteceram no mesmo dia.
Eu detesto S. Não a conheço, nunca a vi, mas a detesto. E tenho motivo para isso, foi porque ela e meu marido se engraçaram uma vez, o que quase ocasionou uma separação, e que deixou marcas profundas em minha alma, feridas que quando eu penso que cicatrizaram, elas voltam a me atormentar...
O fato é que meu marido e S. ainda são amigos. E ele contou a ela sobre mim, sobre o nódulo. Então, ela pegou uma garrafa de água benzida, da Nossa Senhora Desatadora dos Nós, e mandou para mim. Eu sou devota da Desatadora, e S. não sabia disso. Ela alegou que ganhou a água benta naquele mesmo dia, e diante da minha situação de incertezas, fez um gesto de carinho, mandando-a para mim.
Antes disso acontecer, durante a madrugada, eu sonhei com AR. Esta é minha hiper-super-mega-inimiga, alguém que já foi amiga, mas puxou o tapete, e cuja existência eu não só abomino, mas tb ignoro. Eu sonhei que ela tinha deixado um álbum sobre uma mesa e eu, curiosa, resolvi olhar. Ela me pegou no flagra, abriu um sorriso espetacular e começou a falar comigo sobre as maravilhas da maternidade...
Será que é tempo de reconciliação ?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

a coisa em mim

Estou com um nódulo na tieróide. Na verdade, estou com dois, mas devo me preocupar somente com um, aquele localizado no lado esquerdo. Em outubro, ele media 0,5 x 0,5. Agora cresceu, está com 0,7 x 0,5. Possui calcificações em seu interior, o que, segundo entendi, não é uma boa coisa. Em razão disso, vou me submeter a uma segunda punção, já que a primeira falhou. É aterrorizante saber que uma agulha será enfiada em seu pescoço, e que vai aspirar algo que vc tem ali. É apavorante lembrar que o procedimento é feito sem qq anestesia, ou seja, com vc acordada, sabendo que a agulha está entrando. Tb é estressante aguardar o resultado, que pode ser câncer. Bem, vou me submeter primeiro a punção. Depois devo me preocupar com o resto, que pode ser desde cirurgia, quimioterapia e radioterapia, quanto apenas um acompanhamento semestral.
Acho que devo me acostumar com agulhas, já que serei furada mais duas vezes essa semana: amanhã com o exame de sangue e sábado, com a punção.
Será que agulhas são algo que se acostuma ? Isso depois eu conto.